▲ New House, new neighbors ▲

O céu parecia estar em festa, com o sol predominando e sem sinal de nuvem alguma, a cidade de Magnólia seguia seu ritmo diário. A rua principal estava movimentada, pessoas caminhavam de um lado para o outro apressadas ou não. Vendedores e mercadantes anunciavam seus produtos, por mais estranhos e fraudulentos que parecessem ainda sim havia um ou outro que se sentia atraído pela oferta.
Os passos eram praticamente inaudíveis dentre toda aquela multidão. Caminhava apressada, cabisbaixa e coberta por um manto cor de terra que aparentava estar velho e cheio de remendos, como uma colcha de retalhos. Caminhava descalça, não se importando com o quão quente as pedras poderiam estar, pisando em todo tipo de coisa, desde fezes até pedaços de carne e lixo.
Havia perdido a noção do tempo desde que saíra de casa. Aliás, a perdera fazia muito tempo.  Se sentia como se o suicídio de seus parentes houvesse sido na tarde passada, ela ainda lembrava da fúria que emanava de ambos os corpos, rangendo os dentes e emitindo seu ódio um pelo outro através de grunhidos e da força depositada em seus ataques. Enquanto de um lado havia a tia, com um sorriso de superioridade, desviando facilmente dos ataques e demonstrando em movimentos quase ensaiados seu elevado intelecto, do outro havia o pai, que no passado havia sido um ladrão de comida que dera o azar (ou sorte) de roubar algo quando sua mãe estava presente no momento, e começar toda uma corrida que resultara numa consciência pesada e encerrara com sua entrada na guilda de sua mãe, sendo levado em seguida a participar de missões com a mãe até que apaixonasse pela mesma e casassem. Levando ao nascimento de Seat e a morte da mesma no mesmo dia.
Talvez fosse por isso que seu pai não quisesse que ela aprendesse magia.
Ele tinha medo de que a garota acabasse o abandonando e entrasse para uma guilda, onde iria se apaixonar por outro mago e ter o mesmo destino da falecida mãe.  Ou talvez só não quisesse ficar sozinho.
Se Hamal pudesse prever o futuro, talvez a vida de Seat tivesse sido diferente.
Talvez ele tivesse sim deixado a garota aprender magia e ir para uma guilda, ter o mesmo destino da mãe se soubesse que algo bem pior a aguardava quando chegasse a seu décimo sexto ano de vida.
Já estava cansada de tanto vagar e mendigar por alimento pelas ruas da cidade. A garota precisava encontrar um local fixo para viver, pois cada dia que se passava as ruas ficavam mais perigosas, principalmente para uma maga como ela, que possuía tais admiráveis habilidades.
Erguera a cabeça ao acaso, após ter trombado com um senhor de idade que a chamara de algo que não havia entendido muito bem, mas ela não se importava, ser xingada ou humilhada já se tornara um evento diário em sua vida cotidiana nas ruas.
Avistara no topo de uma colina próxima uma grande construção, um esforço a mais para quem já estava nas ruas a tanto tempo não faria diferença.  Subira com certa dificuldade devido a sede e a pressão exercida em suas panturrilhas, quanto mais se aproximava do lugar, maior e mais abandonado parecia.
Assim que a luz do sol fora encoberta por completo pelo prédio, Seat ousou erguer a cabeça mais uma vez para observar tão magnífica obra arquitetônica. Aproximou-se da entrada do prédio, vendo que estava mal cuidado por fora julgou estar abandonado, logo entrando.
Não saberia dizer o que estava pior, o interior ou o exterior do lugar. O chão estava cheio de poeira, todo o lugar estava cheio de poeira. O piso rangia como uma porta sem óleo e insetos pareciam dividir o lugar com ratos e morcegos. Tossiu demasiadamente, tirando a parte superior da capa, revelando os cabelos e os olhos da cor dos céus daquele dia e uma pele tão pálida quanto a neve. Num suspiro, proferiu de uma só vez em alto e bom tom, para que quem quer que estivesse ali a ouvisse claramente.
- esta será minha nova casa.