♠ You never know what i can do. ♠

A última coisa de que eu me lembrava era de ver a face demoníaca de minha mestra sorrindo para mim.
Suicídio? Talvez, sei que a escolha que a maioria teria feito era seguir adiante com ela e deixar a guilda para trás, Sei também que ela não tinha a obrigação de me aceitar e que seguir com ela seria uma forma de agradecimento, mas não podia deixar a guilda sozinha.
Mestres vão e mestres vem, e a obrigação de todos eles é garantir não só a segurança dos membros como todo o prédio, afinal eles não se tornaram mestres só por parentesco direto ou pela força certo?
Meus sentidos começaram a despertar pouco a pouco, eu sentia uma mão sobre minhas costas e meu corpo estava levemente inclinado com algo pressionando meu abdômen, como se eu estivesse sendo carregada nos ombros de alguém.
Conseguia ouvir passos, como de alguém descendo as escadas, porém este alguém estava me carregando enquanto descia, pois eu conseguia sentir os “baques” das descidas.
Eu não havia despertado completamente, pois minha visão se encontrava turva de mais para enxergar algo, porém eu sabia agora que as escadas eram de formato circular. Quando paramos de descer, ouvi o barulho alto de metal sendo arrastado, como uma porta sendo aberta. E voltamos a caminhar, entrando no espaço. Devo admitir que o som despertou todo o meu ser, porém eu acordei tarde de mais.
Fui jogada dentro de algo, uma cápsula talvez. Ela se fechou imediatamente, começando a se encher de água. Eu me levantara batendo nos vidros numa tentativa de escapar dali, porém o que vi era pior: havia uma garotinha que parecia um animal, um ser desconhecido pela ciência talvez, ali, me observando.
Mas o show apenas estava começando.
A água agora estava na minha cintura, eu chorava pedindo para que me tirasse dali, mas parecia que a menina não queria interromper um show tão magnífico. Tentei usar minha magia para quebrar o vidro, mas não adiantou, a água agora me preenchera por completo, eu não sabia por quanto tempo eu conseguiria prender meu fôlego.
A água fazia meus olhos arderem, eu só queria fechá-los e acreditar que tudo aquilo era apenas um pesadelo ou uma premonição, infelizmente não era.  Senti algo perfurar meus calcanhares, ao olhar para baixo havia algo que pareciam raízes ou vinhas em meus pés e elas não paravam de aparecer.
Duas em minhas pernas e uma em meu útero. As outras duas que surgiram perfuraram minha cabeça em ambos os lados, me fazendo gritar de dor. Eu conseguia ver os filetes de sangue subirem junto com o ar que havia escapado de meus pulmões, que agora eram preenchidos pela água que queimava minha garganta e traqueia.
Eu poderia ter tentado puxar aquelas coisas se minhas mãos não tivessem sido amarradas e perfuradas nas palmas. Um último surgiu, e ele parecia querer escolher onde iria se encaixar, pois subia e descia diversas vezes. Eu o olhava assustada, imaginando qual lugar ele procurava até parar á frente de meu tórax. Parecia um animal selvagem em busca de sua presa, eu pude sentir meus ossos se quebrarem ao serem perfurados por aquela coisa, a dor de ser invadida em tantos lugares fora de mais para que meu corpo suportasse, que no fim acabou cedendo.
Meu corpo adaptou-se lentamente as condições em que me encontrava, eu respirava mais devagar, porém aquelas coisas pareciam não deixar que meus membros se atrofiassem, o que era bom.
Para mim haviam se passado apenas alguns minutos de sono, mas para quem estava lá fora poderiam ter sido séculos. Todos se soltaram de vez, me acordando num susto, a cápsula se abriu me cuspindo para fora. Eu caí no chão, com as feridas ainda abertas e tossindo, enquanto o oxigênio retornava a meus pulmões.
Eu não sabia o que havia mudado em mim, mas com certeza eu estava diferente. Em minha mente haviam imagens de guerra, morte, tortura e sofrimento. Me levantei com dificuldade, trombando nas coisas e as derrubando para encontrar algo que me refletisse, mas não havia nada ali, só a cápsula, uma planta e vários vidros contendo líquidos coloridos, alguns deles com partes humanas.
Ouvi o som de um metal sendo arrastado atrás de mim, me virei assustada para ver o que era e passos ecoaram até mim. Ergui o olhar e vi minha mestra sorrindo, segurando um cobertor.
- Feliz aniversário querida.